o que é que distingue o Catolicismo do Protestantismo.

Introdução
Num pais cuja cultura é, indubitavelmente, bastante devedora ao Catolicismo Romano, a compreensão do Protestantismo tornar-se-á mais clara se for feita uma comparação entre uma e outra das correntes cristãs. Assim, seguiremos o consabido principio pedagógico que estabelece a necessidade de, para chegar a adquirir um novo conhecimento, dever começar-se por conceitos já adquiridos.

Antes de falarmos das divergências existentes entre ambas as expressões da Fé Cristã, convém lembrar o que é mais importante: os seus pontos de concordância. Esses pontos podem resumir-se dizendo que católicos e protestantes aceitam os símbolos de Fé conhecidos por Credo de Niceia e Constantinopla (381 A.D.) e o Credo dos Apóstolos (também do século IV).

Alguns grupos protestantes nunca recitam qualquer Credo, mais por falta de hábito no uso de textos litúrgicos que por razões doutrinais. Mas as doutrinas nestes dois Credos enunciadas são de fundamento bíblico. Nem se põe nenhum problema aos evangélicos relativamente à expressão "creio na Igreja, una, santa, católica e apost6lica". A cultura mais elementar sabe que "católica" é a Igreja Universal, composta de todos os que professam a fé em Jesus Cristo, o Senhor. Assim, visto que aqueles dois credos encerram os princípios essenciais do Cristianismo, podemos dizer serem enormes os pontos de concordância entre o Catolicismo e o Protestantismo.

Duas expressões - uma realidade?

O Professor Franz J. Leenhardt, teólogo de Genebra, fazia recentemente esta análise: o Catolicismo e o Protestantismo são duas expressões da mesma realidade. Uma é expressão extrovertida e a outra a expressão introvertida. Leenhardt lembrava que o extrovertido vive dos olhos, do tocar, do apreender a realidade com os sentidos, e o introvertido vive dos ouvidos, da escuta, do apreender a realidade pela meditação. O Católico, extrovertido, precisa do ritual, do gesto, do movimento, da hierarquia, de tudo o que e exterior, incluindo as imagens, as aparições, enfim, o que cativa os olhos. O Protestante, introvertido, precisa da Palavra e nada mais. É uma análise sob muitos aspectos esclarecedora.

Temos pensado ao longo dos anos que o Catolicismo e o Protestantismo são a expressão dentro do Cristianismo de um fenómeno que se tem observado noutras religiões, especialmente na religião de que somos continuadores, a religião do Antigo Testamento. Referimo-nos ao fenómeno da tendência para o aparecimento dentro de uma religião de duas grandes correntes: a corrente sacerdotal e a corrente profética.

Em Israel os sacerdotes aparecem como os homens do culto, do ritual, que tendem ao conservadorismo, à defesa da tradição e a, na prática, substituírem a mensagem pelo seu invólucro, isto é, a substituírem a fé pela religião. Mas em Israel levantam-se uns homens, geralmente austeros, desmancha-prazeres, que interpelam os sacerdotes. Em nome de quê? Em nome da Palavra que lhes chega da parte de Deus. João Baptista é o último profeta, vestido com a maior sobriedade, comendo com a máxima frugalidade e anunciando uma palavra de julgamento da parte de Deus.

O Cristianismo tem elementos proféticos (Jesus começou por pregar e pregar exactamente uma mensagem parecida com a de João Baptista), mas tem também elementos sacerdotais (Jesus é apresentado no livro de Hebreus como o Sumo - Sacerdote que se apresentou a Si próprio como a vítima imaculada). Mas o facto que se pode observar na História é que a vertente sacerdotal, conservardora e hierárquica, tomou um grande, por vezes enorme, ascendente sobre a vertente profética. Esta, no entanto, nunca deixou de existir: os lolardos, os hussitas, os valdenses e em grande parte os primeiros franciscanos, foram expressões dessa vertente profética.

Cremos que se poderá reconhecer que na Igreja Católica-Romana e na Igreja Ortodoxa ficaram mais acentuados, e por vezes, hipervalorizados os elementos sacerdotais da Fé Cristã, e no Protestantismo, também com não raras sobrevalorizações, os elementos proféticos!

Não queremos resumir as diferenças a isto: o Catolicismo sendo a expressão sacerdotal do Cristianismo e o Protestantismo a sua expressão profética - mas cremos que não se pode negar a realidade destas duas correntes e da sua hegemonia num ou no outro ramo do Cristianismo. E no fundo encontramo-nos com o Professor Leenhardt, porque o sacerdote-tipo, católico-romano ou hindu ou de qualquer outra religião, é o homem da posse, do gesto, do exterior - é um extrovertido; e o profeta é o homem da escuta, do lugar ermo, da Palavra - introvertido.

O que mais escandaliza o protestante é o que ele considera ser a coisificação, a objectivação que o católico faz da Fé. E o que mais escandaliza o católico, parece, é o modo que ele considera demasiado pobre como o protestante adora, em templos despidos de ornamentos com um culto centrado na pregação, culto de liturgia pobre que mais se parece com uma conferência dirigida apenas à razão.

Vejamos, então, o que é que distingue o Catolicismo do Protestantismo.

O teólogo Karl Barth, protestante, disse que a diferença entre o Catolicismo e o Protestantismo era apenas a conjunção e. O Protestantismo diz: "Jesus Cristo"; o Catolicismo acrescenta: "e Maria". O Protestantismo afirma: "a Bíblia"; o Catolicismo junta: "e a Tradição". O Protestantismo declara: "a fé"; o Catolicismo diz: "e as obras".

Trata-se de uma caricatura, claro, mas, como todas as caricaturas, é bastante reveladora.

Pensamos que poderíamos apontar dez diferenças entre o Catolicismo e o Protestantismo, das quais três são fundamentais e sete secundárias e que são as seguintes: